A TROVA
Origens
De acordo com estudos realizados por Silveira Bueno (1963, p. 199-200)[1], o termo trova tem origem no latim medieval - provém da palavra tropare, significando “procurar”. Foi com esse sentido que tropare entrou no vocabulário poético da época, evoluindo posteriormente em trobar e chegando ao português na forma trovar. “Mas quem procura acha”, conclui o filólogo, “e da significação de ‘procurar’ passou ‘trovar’ à imediata significação de ‘achar’, naturalmente achar inspiração, inventar”. Segundo a professora Agenir Leonardo Victor[2], essa etimologia é confirmada por numerosos pesquisadores, tais como Cavalheiro (1989, p. 10), Cunha (1982, p. 794), Fernandes (1972, p. 14), Wanke (1973, p. 18) e outros.
Ainda hoje trouver (francês), trovare (italiano), trovar (espanhol e português) conservam o significado de “achar”, daí dizer-se que a trova é um achado. O poeta acha uma nova ideia, uma boa rima, ou, principalmente, um modo diferente de dizer coisas comuns.
Mas afinal o que é trova? Se buscarmos nos dicionários encontraremos, de maneira geral, definições que já não se coadunam com a realidade atual. De acordo com a definição contida no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é uma composição poética ligeira; quadra popular ou cantiga. Tal definição, contudo, refere-se à trova provençal, ou seja, às cantigas dos menestréis que animavam as cortes portuguesas na Idade Média. Esta não é exatamente a ideia que se tem hoje de trova.
Nos idos de 1956, Luiz Otávio[3] (fundador da UBT-Nacional), no livro Meus irmãos, os trovadores, define a trova moderna como “uma composição poética de quatro versos setessilábicos, rimando pelo menos o segundo verso com o quarto, e tendo sentido completo”. Na atualidade, a trova é um poema sem título, de quatro versos em redondilha maior, rimas ABAB e de sentido completo. Dadas as suas principais características, quais sejam: simplicidade, sonoridade, facilidade de memorização – é geralmente descrita como “poesia tipicamente popular”. E realmente é. No entanto a sua construção não é tarefa simples: exige criatividade, sensibilidade e técnica, virtudes que somente costumam estar reunidas em autênticos artistas. Assim descreve tal mister Adelmar Tavares: Oh, linda trova perfeita, / que nos dá tanto prazer.../ Tão fácil, depois de feita, / tão difícil de fazer! Essa composição monostrófica, formada de quatro versos que condensam todo o pensamento ou emoção, é a forma preferida pela lírica popular, mas também é cultivada largamente por poetas de renome.
Segundo Jorge Amado[4], “Não pode haver criação literária mais popular, que fale mais diretamente ao coração do povo do que a trova. É através dela que o povo toma contato com a poesia e sente a sua força. Por isso mesmo, a trova e o trovador são imortais”. (JFRP, 2008, p.3).
Uma das mais antigas modalidades de poesia, e até hoje uma das mais cultivadas, especialmente nos países de língua portuguesa, sua história remonta à Idade Média, vindo desde os trovadores provençais e ibéricos, passando pelos cantadores do Nordeste e do Sul do Brasil, até chegar aos cultores da trova moderna.
[1] SILVEIRA BUENO, Francisco da. Estudos de filologia brasileira. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 1963.
[2] VICTOR, Agenir Leonardo. “A trova: o canto do povo” - (trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social das Faculdades Maringá), 2003.
[3] OTÁVIO, Luiz. Meus irmãos, os trovadores. Rio de Janeiro: Vecchi, 1956.
[4] VICTOR, Agenir Leonardo. “A trova: o canto do povo” - (trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social das Faculdades Maringá), 2003.
NO BRASIL
A trova está presente desde a chegada dos portugueses: veio nas caravelas de Cabral.
Continuou com Anchieta; com Gregório de Matos; com os árcades (Alvarenga Peixoto, Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga); com os românticos (Casimiro de Abreu, Castro Alves, Fagundes Varela, Gonçalves Dias), com os parnasianos (Alberto de Oliveira, Olavo Bilac, Vicente de Carvalho); com os simbolistas (Alceu Wamosy, Alphonsus de Guimaraens, Cruz e Sousa, Emiliano Perneta), chegando aos poetas do modernismo (Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira, Mário Quintana). Começou a ser divulgada com mais ênfase a partir de 1950 quando teve início seu estudo literário. A grande expansão da trova ocorreu, entretanto, somente a partir de 1956, com o lançamento de Meus irmãos, os trovadores, de Luiz Otávio, e mais ainda após os I Jogos Florais de Nova Friburgo, em 1960.